domingo, 19 de abril de 2009

Fissuras de Amor...


Parece coisa do passado mas não é. Quando eu era pequena minha irmã mais velha tinha um namorado, diabolicamente lindo, que costumava fazer-lhe serenatas sob a janela de nosso quarto, fizesse lua cheia, minguante ou embaixo de um pé d´água. Se ele decidisse que aquela seria a sua noite de cantoria, não havia nada que o demovesse da ideia.

Já comigo a coisa foi mais rompante: meu primeiro namorado pulava muros da vizinhança para roubar-me rosas. Depois de casada, meu marido me mandava mensagens apaixonadas pela central de telex da empresa onde eu trabalhava e era um auê danado entre a mulherada que me olhava com um misto de admiração e inveja.

Os tempos mudaram? Sim. Entre os mais jovens é mais fácil mandar torpedos pelo celular, usar monossílabos pelo MSN e ficar nas baladas com a pessoa querida da vez. É naturalmente menos complicado, mas nada, nada romântico. Ficar não é a mesma coisa que namorar. Ficar não é sentir aquele frio na barriga quando se olha para o homem amado, quando se é beijada com amor.

Demonstrar a fissura de amor é ter aquele ímpeto de mandar flores sem data marcada; é receber um cartão escrito com um singelo: “Tô chegando”. É subir correndo as escadas e esperá-lo com uma camisola nova ou usando apenas uma taça de espumante. É não se sugestionar com as bulas de remédio que apontam o declínio do tesão como efeito colateral.

As fissuras de amor só existem entre os mais velhos? Entre aqueles que ainda usam e abusam dos e-mails e os respondem? Não. A nova era é que mudou a metodologia em demonstrar o quanto se ama uma pessoa. Os jovens contratam empresas que se especializam e se renovam na era do amor cibernético.

Hoje se recebe mensagem musical personalizada; telegrama entregue pessoalmente no horário comercial (isso eles copiaram do meu marido); usam a serenata digital; enviam CDs com mensagens gravadas e com embalagem personalizada. Nada fica na lembrança mas gravado para ouvir centenas de vezes a mesma frase quando o desejar. Ninguém mais sonha. Basta ligar o som e ouvir a voz do amado.

As loucuras de amor são transportadas por mini vans coloridas que chegam do nada e com megafones e alto-falantes tão potentes que o bairro inteiro fica embevecido ao ouvir a voz do locutor emocionado declamar um poema com trilha sonora e tudo o mais que foi encomendado para transmitir a emoção que o momento merece.

Cestas de café da manhã para cada ocasião: para namoro tem ursinho; para aniversário flores ou bombom; bebidas para um encontro mais sensual. E, para uma noite carregada de expectativa por ser a primeira que passam juntos.... a empresa e não o amado é que espalham pétalas de rosas pelos ambientes que se desejar. Fica tudo muito impessoal, mas prático. Basta sacar o cartão de crédito e ir dormir tranqüilo que amanhã os preparativos para o encontro estarão prontos na hora e no local contratados. Falta de romantismo? Falta de criatividade? Não. Lamentavelmente, absoluta falta de tempo mesmo!

Fonte: Fale com Elas

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