domingo, 21 de dezembro de 2008

Ainda tenho desejo?


No famoso Aurélio, meu querido e inseparável dicionário da Língua Portuguesa, desejo quer dizer: ato ou efeito de desejar. Vontade de possuir ou de gozar. Anseio, aspiração. Cobiça, ambição. Vontade de comer ou beber algo, apetite. Apetite sexual. Na gravidez, vontade exacerbada de comer ou beber determinada coisa.

No decorrer de nossa vida passamos por uma série de situações que se encaixam perfeitamente em uma dessas situações definidas pela nossa língua. Desejamos ir bem em uma prova na escola; desejamos que o dia amanheça claro e pleno de sol para pegar uma onda legal na praia; desejamos que o cachorro da vizinha pare de latir às 3 da madrugada; desejamos quebra-queixo quando estamos grávidas e desejamos o melhor dos desejos: desejamos um parceiro que nos faça feliz no amor e realizadas na cama.

Esse componente amor-desejo surge quando estamos apaixonadas pela primeira vez e se repete sempre a cada nova paixão, a cada novo amor. Mas se não mudamos de parceria com freqüência, se optarmos pelo mesmo homem ou mulher ao longo de nossa vida, essa interação continuaria sendo a mesma? Quando começamos a sentir o vigor do desejo sexual estamos na adolescência, vivenciando experiências pessoais e mudando o nosso comportamento. Nessa fase da vida, onde tudo é novidade, um simples beijo pode desencadear um turbilhão no ventre, um desejo premente nas entranhas e só de lembrar do beijo colado ao namorado sentimos um frio na barriga. Quem nunca sentiu isso que me jogue pela janela!

Conforme crescemos promovemos também as premências de nosso desejo. Beijos e carícias não são suficientes para aplacar nossa ânsia de satisfação sexual. Os estímulos são aceitos e as respostas eróticas são partilhadas conforme o meio ambiente, educação e cultura em que vivemos. Depois disso é a nossa cabeça que vai determinar o quanto podemos avançar, retrair ou, simplesmente, reprimir esse desejo.

Aprendemos o mecanismo da masturbação ao mesmo tempo em que começamos a fantasiar o sexo, povoando de sonhos as nossas noites solitárias. Quando aceitamos a receptividade de um parceiro colocamos em prática aquilo que aprendemos na solidão; repetimos as situações que lemos nos livros; fazemos o mesmo que vimos nos filmes educativos ou eróticos - aqueles mesmos filmes vistos em nossas tardes de frio e cobertor.

Portanto codificamos desde cedo que desejo é principalmente “algo” relacionado a sexo, à atividade sexual, isto é, à motivação que cada um tem sobre sexo; àquilo que nos impulsiona para o sexo; para o comportamento e desempenho sexual; à excitação e finalmente a esse desejo que nos remete ao ápice de toda a atividade sexual: o orgasmo.

Até aqui muitas diriam: Tô careca de saber isso. Tudo no começo são rosas e delícias; hoje não precisamos nos esconder para fazer sexo e extravasar a nossa sexualidade, o nosso desejo. Mas o que discuto aqui não é a situação do sexo em si, e sim o desejo de fazer sexo e continuar a fazê-lo com o mesmo parceiro por meses e anos a fio.

Afinal o que é sentir desejo por um parceiro? É ver naquela pessoa o objeto de seu amor e paixão. Ainda que o tempo tenha passado é aquela pessoa que faz despertar em você o mais primitivo de todos os apelos, é ir além da imagem; é ver nesse parceiro uma boa e saudável motivação para que o sexo role livre e solto. A iniciativa de um é o estopim para que ambos se satisfaçam e gozem.

Nos dias de hoje ninguém fica impotente ou frígida. O que existe são frustrações que podem e precisam ser contornadas em conjunto ou com o auxílio de um terapeuta. Mas mais que uma disfunção momentânea o que sombreia como nuvem agourenta casais nessa situação é a absoluta falta de desejo de um dos componentes dessa equação. Casais às vezes ficam estagnados por motivos culturais onde podemos incluir educação rígida, princípios religiosos, estéticos, segmentos sociais atrelados a uma escala de valores ainda sujeita a grilhões que impedem a expansão desse sentimento tão próprio da natureza humana.

No entanto, se a motivação sexual for mantida num patamar onde o comportamento sexual aceita a iniciativa e a receptividade entre os parceiros o desejo não morre, muito ao contrário, tende a ser sempre e cada vez mais interessante e satisfatório. Caso o contrário esteja ocorrendo todo casal pode e deve lançar mão da fantasia, de temas que remetam à situações de prazer, como por exemplo, ter sido servido por um garçon sarado em um coquetel, ou a lembrança de uma perna roliça e sensual subindo a escada rolante do shopping. Se isso for útil à motivação que seja utilizada à exaustão e que o tesão fique sempre aceso. Se filmes eróticos ou a leitura em conjunto de um conto apimentado puder induzir um ato sexual completo com verdadeiro começo, meio e fim - oh céus – porque não fazer? Por que não utilizar dessa excitação saudável e intensa?

Todos sabemos que o clímax de uma relação sexual – o orgasmo – quando atingido, provoca satisfação, acalma o corpo e massageia a alma. Esse negócio de abstinência sexual ou a falta de desejo é papo prá boi dormir. Só não tem tesão quem é muito, muito velho ou doente fisicamente; o que falta é estímulo e motivação. Mesmo em casos onde o casal esteja vivenciando “aquela famigerada decepção conjugal” nada impede que, isoladamente, cada um tenha o seu impulso sexual. É nessas horas que parceiros sublimam o sexo, permanecendo unidos apenas pelo sentimento forte de amor, amizade e companheirismo. O ideal é que o casal seja compatível no amor e no desejo, que compartilhem cada passo de seus impulsos e aspirações sexuais.

As mulheres muitas vezes fogem de uma relação sexual por causa da falta de lubrificação vaginal que invariavelmente induz a uma relação dolorida e sem prazer. Isso não quer dizer que elas não tenham apetite ou desejo sexual. É nessas horas que elas precisam lançar mão de cremes lubrificantes e da imaginação. Vale sempre lembrar aqui que, todas devem olhar no espelho e pensar: Sou atraente e sedutora porque ele ainda me quer e deseja.

Ora bolas, por que não tirar proveito disso? Não sou uma melancia que ele olha e passa batido. Provoco o seu desejo, inflamo o seu corpo; sou interessante e criativa na cama. Portanto, sou desejável para ele. E eu como fico? Vou à luta. Penso nos meus objetivos de vida. Penso no mantra que toda mulher jovem ou madura deveria pensar: se meus neurônios estão perfeitos; meus hormônios devidamente dosados; não preciso reproduzir; não sou estressada; não tenho nenhum tipo de transtorno compulsivo: não preciso sentir dor. Então, daqui prá frente só sentirei prazer. Devo concentrar minhas energias sexuais na satisfação de meu desejo com um parceiro satisfatório e saudável.

Ninguém é obrigado a perpetuar uma parceria onde só exista o ranço da afeição, da segurança e da simpatia pelo parceiro; onde existe o domínio físico, o abuso da força. Isso mata o desejo, o amor e a dignidade de qualquer ser humano. Onde existe a repulsa ao sexo não quer dizer que exista uma reciprocidade na falta de desejo.

Portanto, o melhor para atingir a excelência que o desejo pode proporcionar é procurar o equilíbrio entre mente e corpo, onde a afetividade case com o desejo porque só assim todos terão motivos para aspirar a uma vida mais saudável e feliz. E, é sim possível ter desejo pelo mesmo parceiro mesmo depois de tantos anos de amasso, ralas e rolos, noites em claro, bebês chorando, relógios despertando, empregadas faltando, filhos gazeteando na escola, carros quebrando, rugas nascendo, barriga crescendo e contas e mais contas a pagar. Um dia a gente acorda ao lado dele e diz: precisamos de um colchão novo, mais alto, mais charmoso. Sua coluna vai adorar! E o desejo nasce de novo e de novo você volta a sorrir.

Nenhum comentário: