sábado, 4 de abril de 2009

Sexualidade do deficiente mental (DM)


Dois temas que sempre despertam sentimentos fortes e variados são; deficientes mentais e sexualidade. Juntar os dois, sexualidade dos deficientes mentais causa mais espanto ainda. As dúvidas que acometem a sociedade em geral, e em particular as pessoas que lidam ou pretendem lidar com a Deficiência Mental, é saber se o deficiente mental tem ou não sexualidade e, em caso afirmativo, se sua sexualidade é sentida de maneira idêntica aos não deficientes.

O deficiente mental, como qualquer outra pessoa, tem necessidades de expressar sua sexualidade e a maneira como ele faz isso acaba produzindo, muitas vezes, certo grau de constrangimento social e familiar. Reprimir a sua sexualidade não vai fazer com que ela desapareça, e as tentativas de dessexualizar o deficiente irão angustiá-lo e torná-lo mais agressivo. A repressão pura e simples da sexualidade pode alterar o equilíbrio emocional do deficiente, diminuindo as possibilidades de que ele tenha um desenvolvimento melhor. Quando bem encaminhada e orientada, a sexualidade melhora o desenvolvimento afetivo, facilitando a capacidade de se relacionar, melhorando a auto-estima e a adequação à sociedade.

Temos que compreender e aceitar a sexualidade como instrumento de relacionamento e não unicamente como ato sexual. A sexualidade tem que ser entendida como:

·expressão da afetividade,
·capacidade de estar em contacto consigo e com o outro,
·construção da auto-estima e do bem-estar.

Mas as dificuldades existem e são grandes. Saber lidar com a sexualidade dos filhos normais já é um tabu para a maioria dos pais, sendo o filho portador de deficiência mental as dificuldades, constrangimentos e dissimulações são ainda piores. Por medo de expor o adolescente deficiente mental a riscos físicos e emocionais, por constrangimento de se exporem a si próprios, muitos pais negam a existência do problema e preferem encarar o filho como se fosse assexuado. Por outro lado, alguns profissionais de instituições especializadas tendem a considerar os deficientes como pessoas hipersexualizadas, que não têm nenhum autocontrole, nem têm capacidade de um mínimo entendimento ético e social.

Contudo, apesar de existir um vasto leque de informação acerca das pessoas portadoras de Deficiência Mental (DM), de existir também uma tendência cultural propensa à integração de pessoas ou grupos de pessoas, os deficientes mentais ainda continuam enfrentando dificuldades sociais, tanto como alvo de marginalização, quanto pela exclusão. Apesar do avanço nos conhecimentos sobre a DM, os preconceitos e a ignorância acabam por comprometer significantemente a qualidade de vida e as necessidades afetivas dessas pessoas (Craft, 1987).

A Importância das Atitudes Profissionais
Ivone Domingues Félix diz que até aos finais do século XIX, as pessoas com deficiência, embora não fossem particularmente valorizadas, eram integrantes da comunidade, mas, com a revolução industrial apareceram os grandes asilos, geralmente localizados nos subúrbios rurais das grandes cidades.

Estas instituições segregavam as pessoas com doenças mentais, dificuldades de aprendizagem e os chamados “defeituosos morais” e, ao mesmo tempo em que asseguravam lugares protegidos a essas pessoas, deixavam a sociedade de produção em segurança mais confortável. Assim a sociedade também era protegida dos medos típicos da loucura e o eugenismo estava mais ou menos assegurado por conta do impedimento dessa população “alienada” de procriar (Beayrs, 1995).

Wolfensberger (Beayrs, 1995), tipificou alguns estereótipos mais comuns em relação às pessoas portadoras de DM. Elas são vistas como “eternas crianças”, “presentes de Deus” ou “santos inocentes” e, embora estas expressões pareçam benignas, elas afetam profundamente o comportamento, uma vez que a atitude da pessoa tende a ser profundamente afetada pelas expectativas sobre ela.

Apesar do crescente número de pessoas mais bem informadas e que abraçam o pensamento moderno em torno das questões da sexualidade e da Deficiência Mental, é possível encontrar ainda idéias de que as pessoas com DM têm “... forte inclinação” sexual, copulando sem qualquer controle pessoal, sendo uma ameaça para a sociedade (Craft, 1987).

Segundo Kempton (1980), juntar Deficiência Mental e Sexualidade, faz emergir um conjunto de atitudes, por parte dos pais e dos profissionais, que favorece muito mais a repressão da sexualidade nas pessoas portadoras de DM do que a sua vivência saudável.

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