domingo, 12 de abril de 2009

O estereótipo do macho


O apresentador do prêmio norte-americano de cinema chamado Oscar, o ator australiano Hugh Jackman, atualmente com o “título” de homem mais sexy do mundo, onde toca faz fortuna, confunde a cabeça de muita gente mal-resolvida e é um ser humano exemplar. Em entrevista à televisão norte-americana, o ator contagia a audiência com sua alegria de viver, seu charme pessoal, sua felicidade por fazer tudo o que gosta e, especialmente, o respeito pelo ser humano independentemente do gênero. Um dos papéis no teatro que mais lhe deram a fama e prestígio foi encenando a vida de um famoso ator gay. Fez o personagem tão profissionalmente que causou furor no teatro. A mulher de Hugh conta que ficava nos bastidores do teatro esperando o marido e ouvia a todo instante, dos colegas dele: ele é ou não é? Isso é muito comum na vida real quando alguém se sobressai em alguma coisa e não incorpora o estereótipo – que as pessoas tanto precisam! Hugh interpretou um ator gay, daqueles que não sabem onde colocar as mãos, e isso incomodou muita gente porque o ator mostou que aquele personagem era apenas um ser humano. Na verdade, é o que incomoda é que ele é um profissional dedicado, que dança, canta, faz qualquer papel, no teatro ou em filmes, e é um apresentador de mão cheia.

O que faria um ator estrangeiro tão equilibrado no meio de tanto desequilibrio que existe no mundo do teatro e nos bastidores do cinema norte-americano? Hugh disse na entrevista que sua mãe largou seu pai com cinco filhos homens quando ele tinha pouco mais de 8 anos de idade. A receita parece simples: o pai dele! Abandonado pela mulher, o pai assumiu os dois papéis. Fez isso tão bem e com tanto amor pelos filhos que todos são equilibrados e de sucesso naquilo que fazem. Essa é a receita para a felicidade: amor de pai, responsabilidade para com os filhos, sentimento profundo do que é a essência do ser humano e, acima de tudo, não despejar nos filhos os seus problemas conjugais. O ator também prova que os estereótipos são apenas pobres estereótipos. Algumas pessoas se seguram neles porque não têm algo mais interessante em suas vidas. Qual é o problema de um homem hetero fazer bem o papel de um homem gay no cinema ou no teatro e vice-versa? Qual é o problema de alguém ser gay, hetero, tartaruga, cabra, vaca ou elefante? Quando entramos nessa discussão sobre gays, há um fator de desequilíbrio muito grande na opinião das pessoas que se manifestam contra, como se a vida das pessoas fossem o “cordão vermelho” ou o “cordão azul”.

Essas pessoas esquecem que o homem ou mulher gay é um ser humano normal, com todas as faculdades naturais da vida, com habilidades para desempenhar qualquer função e que a diferença entre seres humanos está apenas na inteligência, na capacidade de administrar a vida, de amar e ser amado, nada mais. “Somos todos iguais nesta noite”, diz a canção! Claro que há os que não se erguem por medo, trauma ou baixa-estima. Esses são infelizes porque menosprezam a inteligência e não lutam pelos seus direitos civis, que na Constituição Brasileira está escrito que é para todos, independente de cor, raça, credo. O ser humano equilibrado é aquele que tem boas e respeitosas relações sociais com seres humanos de gêneros diferenciados, sem confusão mental do que ele realmente é. Na era em que estamos, é comum pais solteiros, homens separados que ficam com os filhos e homens gays adotarem crianças. As mulheres já fazem isso há muito tempo e muita gente que se diz inteligente pensava que essa era uma função só de mulher. O que existem em comum entre eles é amor, respeito pelo ser humano e acima de tudo responsabilidade civil – ao contrário das gerações anteriores onde pais achavam que filhos homens tinham que ser machos matadores, irresponsáveis, mulherengos e negligentes com sua prole. Estatísticas feitas nos países escandinavos e nos Estados Unidos mostram que filhos de pais solteiros ou separados, héteros ou gays, são equilibrados e obtém sucesso na vida porque isso não depende do gênero, mas de educação, amor, atenção, respeito, cuidados especiais. É a presença física do pai na vida do filho ou da filha, seja ele pai solteiro, separado, gay ou equilibrista que dá segurança emocional, confiança, maturidade, equilíbrio, que são a chave para o sucesso na vida.

O desequilíbrio humano, que faz com que o ser mergulhe no curto caminho das drogas, da criminalidade e das irresponsabilidades sociais e civis não tem a ver com gênero, preferência sexual ou aparência. Tem a ver com desequilíbrio emocional oriundo da falta de uma pessoa que incorpore em suas vidas a essência amorosa, respeitosa e responsável do um pai ou da mãe – e isso não faz diferença entre filhos de sangue ou adotivos. Recentemente, foi notícia nos EUA uma cadela que já adotou 88 animais, entre eles cachorros, gatos e filhotes diversos e amamentou, lambeu e acariciou todos eles até o momento que em eles se ergueram e assumiram suas vidas – aí ela se prepara para a próxima adoção, com o sentimento que ninguém esperava ver nos cachorros! Essa cadela também dá outra lição: gato criado por cadela não vira cachorro nem aprende a latir. Continua a ser gato. A diferença é que não mais compra a falsa idéia de que gato e cachorro são inimigos, assim como heteros e gays. Hugh conta que, no início da carreira em New York, ligou para o pai para dizer que ia cantar em um lugar muito famoso da cidade, tipo Teatro Nacional, e o pai dele pegou um avião na Austrália, no dia seguinte, e foi aos EUA assistir a apresentação do filho, vestido em seu melhor paletó. Alguém tem dúvida, ainda, porque o rapaz é um sucesso?

(*) José Joacir dos Santos
É doutor em Psicologia e faz curso especial em Sexologia na Universidade de San Francisco, EUA.

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