
Eles estão por aí, misturados na multidão, circulando livremente, quase imperceptíveis. A pista vem quando param numa banca de doces e enchem os bolsos de chocolates, seja em barra, bombons, confetes... São os chocólatras, “viciados” na iguaria denomidada pelos gregos como “o alimento dos deuses”. Tem gente que não passa um dia sequer sem sentir seu sabor, amargo ou doce, na boca.
Dependência física ou psicológica? Benéfico ou maléfico à saúde? A verdade é que o chocolate possui substâncias que proporcionam prazer, bem-estar e despertam sensações bem particulares. Cada um tem uma história diferente para contar sobre o seu “vício”.
A jornalista Michele Badiali diz ter fascinação por chocolate desde a infância, e todos os dias come “nem que seja um batom”. Hoje ela se considera uma chocólatra e diz sentir-se melhor quando se delicia com a iguaria.
Refletindo sobre seu “vício”, a jornalista percebeu que “precisa” comer mais chocolate quando há situações difíceis para encarar ou decisões complexas de sua vida a serem tomadas. “Nos momentos em que estou com mais ansiedade sobre algo importante para acontecer, aumenta a vontade, isso é claro para mim”, diz Michele. “É como se aquele momento aliviasse um pouco a tensão da vida.”
Para Michele, o prazer de comer chocolate é tão grande que ela não pensa em possíveis espinhas nem na balança. “Essas coisas são menores se comparadas ao bem que ele faz nesses momentos.” Ela conta que já chegou a comer quatro barras de chocolate junto com uma amiga, durante um café da manhã. E não sentiu culpa por isso. “É como se o chocolate fosse um presente diário. Ele representa alívio, alegria”, diz.
Outra aficionada pelos prazeres do chocolate é a musicista Tiquinha Rodrigues, que se refere a iguaria como “meu doce pecado”. Ela diz que enquanto muitas pessoas se deliciam com pratos sofisticados, sua satisfação maior é devorar uma barra de chocolate. “Dá uma saciedade de fechar os olhos e curtir. Um prazer que vai dos olhos para a mente e me leva para caminhos sempre muito bons.”
Tiquinha conta que sempre está fazendo algum tipo de dieta e que o chocolate é a tentação que ela permite entregar-se. “Quando encontro com ele, guardo para o meu pecado.”
Os do tipo meio amargo são os preferidos da musicista, que considera perfeita a combinação com café amargo. Degustar uma barra de chocolate junto com um bom vinho também está no cardápio de Tiquinha, que adora ler um livro ou assistir a filmes enquanto consome um tablete. “Ele é um ótimo companheiro!”
A universitária Adriana Gabriel, 20, afirma, convicta, que troca qualquer almoço por uma barra de chocolate, que considera o seu “prato predileto”. “Eu não sei o que tem nele, mas o sabor me dá muito prazer. Deve ter alguma coisa que proporciona isso. Deveriam pesquisar...”
Mesmo não se considerando chocólatra, Adriana confessa que quando não tem uma barra de seu objeto de desejo à mão, vira-se com ‘toddy’ puro e, na falta desse, vai de cereal, tipo sucrilhos de chocolate.
Eu só quero chocolate
Apesar de ser altamente calórico, o chocolate pode ter qualidades benéficas para o organismo, se consumido moderadamente e por pessoas que não tenham problemas de obesidade, alergia ou até mesmo insônia, em alguns casos. O vilão das dietas, porém, é bastante nutritivo, rico em vitaminas e sais minerais, com alto teor de flavonóides e de substâncias que ativam a serotonina — daí, a sensação de prazer que ele provoca.
Segundo especialistas, os flavonóides contidos na composição do chocolate — no amargo, sobretudo — são antioxidantes e combatem os radicais livres, retardando o envelhecimento, ajudam a reduzir os riscos de doenças cardiovasculares, melhoraram a circulação sangüínea, além de reduzir os níveis do mau colesterol (LDL) no sangue; contém vitaminas A, B, C, D e E, e ainda ferro e fósforo.
A nutricionista Fátima Nunes costuma prescrever uma pequena porção de chocolate nas dietas que elabora — dependendo de cada caso, é claro. “Recomendo o chocolate Talento Intense de 25g. É excelente para o lanche, pois possui 55% de cacau. Os da Hershey’s e o Choco Soy, à base de leite de soja, também são bons.”
Para Fátima, não dá para falar de chocolate sem citar o cacau, o ingrediente base de sua composição. “O do tipo amargo, por exemplo, tem mais cacau e, por isso mesmo, possui níveis maiores de flavonóides e antioxidantes, que fazem bem ao coração. Os chocolates ruins são aqueles que levam em sua composição açúcar, gorduras trans e leite integral. Os chocolates ao leite e branco, por exemplo, não possuem nada disso (agentes benéficos). O branco leva muito leite integral”, indica.
A nutricionista Eliana Bellot endossa o que diz Fátima Nunes e considerada o chocolate branco um verdadeiro subproduto, já que é produzido a partir da pasta de cacau, sendo assim, conseqüentemente, mais rico em gorduras trans. “O problema do hábito de comer chocolate é quando a pessoa começa a ter dependência. Quando é ingerido, ele libera a serotonina, que é uma substância que libera uma sensação de prazer. Aí, algumas pessoas desviam sentimentos para isto”, comenta.
Há quem diga que o chocolate também cria dependência psicológica em seus comedores compulsivos. A psicóloga Norma Vidal considera que qualquer mania que ultrapasse os limites da normalidade é passível de acompanhamento; seja lavar as mãos, comer chocolate... “É um vício. Mas depende da situação da pessoa; se estiver prejudicando sua vida social, profissional.”
De acordo com a psicóloga, geralmente, comer por compulsão já é um problema, uma tentativa de preencher até mesmo algum vazio existencial. “É necessário um acompanhamento para ver o que está acontecendo. Se está exagerando no chocolate pode haver algo errado”, avalia Norma Vidal, que tem especialização em Biosíntese.
Tribuna do Norte
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