
Como um dos pilares centrais, tal instância psíquica reveste-se de importância quando se é observado o desenvolvimento da doutrina psicanalítica e as investigações que levaram Freud a desenvolver sua teoria.
Ao longo dos séculos, o inconsciente esteve atrelado às mais diversas significações, sendo que a mais comum delas, era relacionada ao estado de inconsciência, ou seja, sem “juízo” algum, no sentido de plena ação consciente.
No campo do saber medicinal, o inconsciente, em diversos escritos, aparece como um “porão”, indefinível porém perceptível, de onde se originavam os mais diversos, e bizarros, comportamentos patológicos da mente humana. O inconsciente, segundo este ramo do saber, estava ligado à “inconseqüência dos atos” de um individuo acometido de um transtorno mental.
Com Freud, pode-se afirmar, que o inconsciente revestiu-se de outro significado, mais condizente com a realidade e cuja definição atendia a alguns requisitos do saber psicológico da época, explicando, em detalhes, o real funcionamento do aparelho psíquico humano.
É importante ressaltar que, ao longo de sua pesquisa, Freud por diversas vezes re-adaptou sua recém criada teoria a outros postulados teóricos, enriquecendo o arcabouço teórico do termo em questão. Estas adaptações se fizeram necessárias, posto que, a cada experimento, a cada análise, o inconsciente revelava uma nova faceta de funcionamento, fato que não passou despercebido ao olhar atento do ilustre pai da psicanálise.
Ao expandir sua obra, logo no inicio dos seus escritos, o conceito de inconsciente estava meio turvo, ante tantas considerações sobre o assunto. Como explicar algo que, em principio, era inacessível à consciência? Como explicar um fenômeno de ordem mental que não é mensurável e sua existência, pelos métodos positivistas, não podia ser comprovada?
Diante deste desafio, Freud, entre inúmeros experimentos, incluindo sua auto-analise, começou a observar que o inconsciente, apesar de ser “blindado”, deixava, em alguns momentos, “escapar” alguns indícios de sua existência. Daí veio o interesse freudiano pelos atos falhos, sonhos, chistes, etc.
A psicanálise, enquanto ciência, baseia-se na excrutinação do inconsciente, por isso, sua definição, em linhas gerais, é “a ciência do inconsciente”.
O termo psicanálise é usado para se referir a uma teoria, a um método de investigação e uma prática profissional. Enquanto teoria, caracteriza-se por um conjunto de conhecimentos sistematizados sobre o funcionamento da vida psíquica.
(...) enquanto método de investigação, caracteriza-se pelo método interpretativo, que busca o significado oculto daquilo que é manifesto por meio de ações ou palavras ou pelas produções imaginárias , como os sonhos, os delírios, a associação livre, os atos falhos. (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001, pág. 71)
Observando-se detidamente esta definição, pode-se afirmar que a compreensão da psicanálise passa pelo trajeto pessoal de Freud, desde a gênese de sua teoria, passando pelo seu desenvolvimento e sua conclusão.
O trabalho analítico, em síntese, se resume em trazer à tona o inconsciente, este “ilustre desconhecido”, através da correta interpretação dos mecanismos mentais (inconscientes) por trás de cada fenômeno de âmbito psicológico. Sem a devida compreensão do conceito proposto por Freud, torna-se impossível praticar/vivenciar a psicanálise, posto que seu pilar central, conforme já citado, é o conceito do inconsciente.
Apesar da teoria freudiana parecer, em certos momentos, inclusive nos escritos do pai da psicanálise, “dissecar” a fundo o inconsciente humano, a verdade não poderia estar mais longe da aparente realidade. Durante anos, Freud procurou “entender” os processos inconscientes através de seus “sintomas” sem, contudo, defini-lo plenamente.
É através da análise detalhada de um sintoma, que nuances do inconsciente vão surgindo, dando corpo a um complexo psicológico peculiar a cada individuo.
Com o passar do tempo e o desenrolar das teorias, os teóricos da psicanálise, em especial Carl Gustav Jung, defendeu a idéia de um inconsciente que extrapolava os limites de cada individuo, e fundia-se a outros inconscientes, formando o que ele chamou de “inconsciente coletivo”. Tal teoria se revestiu de importância para explicar certos fenômenos de ordem social que não podiam ser plenamente explicados através da teoria de um inconsciente individual.
Em resumo, pode-se afirmar que a teoria do inconsciente é o pulso central da doutrina psicanalítica. Sem este conceito, outros conceitos secundários, como a interpretação de sonhos, associação livre, etc, de nada valeriam para desvendar parte da complexidade da mente humana.
Compreender a teoria proposta é mergulhar na mente do seu descobridor, ampliando seu leque de conhecimento para o auto-conhecimento, posto que, sem este olhar aprofundado, não tem como se fazer psicanálise e, muito menos, progressos de ordem mental.
Nenhum comentário:
Postar um comentário