domingo, 12 de julho de 2009

Filhos e a separação do casal


A primeira coisa indispensável no tormento e drama de uma separação é o percebimento claro e profundo de que ambos perderam o referencial afetivo, se evitando culpar o outro pelo abandono ou separação. O ódio ou dor profunda de uma separação é mitigado pela consciência de que ambos foram quase que totalmente incapazes de efetivarem as expectativas do outro, ou pelo menos tentar chegar a um acordo parcial sobre as mesmas. A separação é encarada via de regra como uma derrota para alguns, e liberdade para outros. Ambos conceitos são parciais se refletirmos apuradamente sobre a questão. A separação nada mais é do que um verdadeiro turbilhão de todo tipo de emoção conflitiva, positiva ou negativa, assolando ou testando o emocional do indivíduo até o mais puro limite da tolerância. Angústia extrema, ódio, raiva, vingança, inveja, inferioridade, culpa, arrependimento, alívio, medo, esperança, saudades, são alguns exemplos do que provêm da contenda originada. O desespero que se instala perante a situação muitas vezes não é prova de nenhuma saudade ou amor perdido, mas a certeza da incapacidade para estabelecer um novo relacionamento. Fala-se tanto na questão dos filhos e seu sofrimento. Sem dúvida alguma são inegáveis a perda e dor para a criança da presença contínua dos pais, mas muitos esquecem de lhes comunicarem o óbvio: que a relação não pertenceu jamais a eles, mas tão somente que os dois juntos remetem à sua origem biológica e afetiva.



Haveria uma diminuição radical de litígios se ambos se conscientizassem que no momento da separação ainda devem várias coisas ao outro; tanto material como emocionalmente. O leitor poderia neste ponto indagar sobre tal conceito ingênuo no furor da batalha, alegando o fato de como corroborar um compromisso fiel no final de algo que talvez jamais existiu? Porém, caso isto não ocorra, ambos serão lançados no mais puro “limbo” afetivo e emocional, com total comprometimento futuro dessas esferas. Embora haja sofrimento e conflito o tempo todo, a separação consensual é a última chance para que possamos doar algo de positivo para quem esteve ao nosso lado, caso contrário, o resultado será a perda total no mais amplo sentido. Neste momento tão difícil muitos não conseguem elaborar que a questão não passa apenas pela raiva ou abandono em relação a quem está ao lado, mas que a própria pessoa será totalmente afetada pelo acontecimento. A raiva deste modo é a primeira defesa contra a solidão e a sensação de rejeição, vindo seqüencialmente o ódio. A diferença entre raiva e ódio é que a primeira é puramente uma defesa psíquica contra uma frustração ou mágoa, tendo um limite de durabilidade; o ódio se torna um processo de longo prazo, sendo um cultivo duradouro da inconformidade. Embora muitos pensem que este movimento produza sofrimento constante, o fato é que se torna uma espécie de rotina ou distração para alguém que não sabe como resolver seu dilema afetivo. O problema final desse ódio todo é que será lançado justamente para alguém que desejando ou não, nos lembraremos pelo resto de nossas vidas, ou seja, é uma verdadeira armadilha para a saúde psíquica.

ANTONIO CARLOS ALVES

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