A psicoterapeuta Marilene Krom, da UNESP de Bauru, realizou um trabalho interessante (tese de doutorado) sobre o encaixe dos mitos no casamento. Segundo ela, os conflitos que existem na formação de uma família, que podem se tornar até patológicos, derivam, muitas vezes, da inabilidade na negociação dos mitos herdados por cada um dos parceiros. Entre eles, estão o mito da união (a família tem que se reunir todos os domingos, por ex.), da propriedade (a família deve perpetuar o seu patrimônio), da religiosidade (prática de uma determinada religião por todos), da conquista (todos devem se empenhar para conquistar bens ou coisas como seus familiares).
Segundo ela, o encaixe mítico precisa se um tempo para se efetuar entre o casal. Marlene afirma que é necessário ter flexibilização para negociá-los na nova família que se forma, principalmente por causa das expectatvas que se criam. "No casamento, os acordos são considerados verdadeiros rituais que servem tanto para a manutenção dos mitos, como a passagem do casal pelos períodos de encaixe", diz ela.
Durante três anos, ela acompanhou de perto cinco casais em várias fases do casamento -- por meio de entrevistas, genograma, visitas na casa, filmagens -- para verificar como os mitos eram ajustados. Constatou que as escolhas não são aleatórias e que no levantamento da árvore genealógica há repetição dos casos de alcoolismo, violência e agressividade. "Ao existir conflitos não resolvidos que perpassam as gerações ,o estresse se acumula e o casal depara-se com tarefas de dar conta dos seus problemas do ponto de vista evolutivo para a construção do relacionamento", diz ela. O trabalho virará um livro que será publicado pela Editora Summus.
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