sábado, 14 de fevereiro de 2009

O sonho de engravidar e a ansiedade


"Crescei e multiplicai-vos", diz o livro sagrado do cristianismo. O certo é que independente da religião escolhida, o ser humano tende a querer deixar um sinal de sua existência no mundo. Embora seja crescente o número dos que preferem apenas plantar uma árvore ou escrever um livro, a maioria deseja mesmo deixar seus genes para a posteridade através de um filho ou filha. Até aí nenhuma novidade, mas pouca gente sabe que a ansiedade pela realização desse sonho pode atrapalhar a fertilidade, tornando mais difícil a esperada gravidez.

A forma de ação desse estado emocional sobre o sistema reprodutor ainda é uma incógnita para a medicina, mas de acordo com o especialista em fertilidade Arnaldo Cambiaghi, a experiência comprova essa interferência. Ele cita pacientes nas quais o médico não consegue localizar uma causa orgânica para a dificuldade de engravidar. Não é raro que após darem a luz aos primogênitos concebidos por inseminação artificial, essas mulheres tenham um segunda gravidez espontaneamente.

A diferença entre os dois momentos é exatamente o nível de ansiedade, pois quando um casal resolve ter filhos, eles querem que tudo aconteça o mais rápido possível. Quando as coisas não seguem o rumo planejado, eles se sentem frustrados e a expectativa cresce mês a mês. Tanto que Cambiaghi criou uma metáfora poética-ginecológica para falar desse momento: "É como se a menstruação fosse as lágrimas do útero por não ter engravidado".

Diante dessa agonia, é necessário que o médico tenha sensibilidade para bancar o psicólogo e também para perceber quando a ajuda de um especialista da área se torna fundamental. Claro que a pressa não é a única inimiga dos futuros pais. Um deles pode ser estéril. E é exatamente nesse ponto que a questão fica um pouco mais complicada. Como ajudar esse casal a manter o equilíbrio da relação e de seus próprios egos, diante da impossibilidade de gerar naturalmente um descendente.

"A gente procura tirar essa aura de culpa de um ou do outro. Ou a culpa é dos dois ou de nenhum", diz o especialista, resumindo sua forma de lidar com a questão. A lógica é simples, afinal a pessoa não escolhe suas características orgânicas. No entanto, como emoções normalmente não têm muito compromisso com a lógica, convencer os casais disso é uma tarefa árdua.

Em 50% dos casos, a esterilidade é masculina e os homens são os que encontram maior dificuldade para lidar com o problema. "Existe uma associação da fertilidade com a sexualidade e masculinidade", analisa Cambiaghi. Por isso, o homem também apresenta maior resistência em concordar com o uso do esperma de um doador. A mulher se assusta bem menos com a sugestão de ter um filho gerado a partir de um óvulo que não lhe pertence.

Seja qual for a decisão tomada pelo casal junto com o médico, o apoio psicológico é imprescindível para o sucesso do tratamento e a manutenção da relação. Como os dados empíricos demonstram que o uso de medicamentos contra a ansiedade não apresenta resultados, o ideal é muita conversa e em casos de alta tensão a adesão a práticas alternativas como a ioga e acupuntura.

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