
Estresse, ansiedade e fortes emoções podem agravar ou contribuir para o aparecimento de doenças na pele. Atualmente, os distúrbios psicodermatológicos estão por trás de doenças como a psoríase, o vitiligo, o líquen plano e a alopecia.
Segundo a dermatologista Iara Galiás, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia Integrativa, uma pesquisa do Departamento de Psiquiatria da Universidade Western Ontario, no Canadá, aponta que mais de 40% das manifestações cutâneas estão associa das a transtornos psíquicos.
A psicodermatologia, também conhecida como medicina psicocutânea, vem ganhando espaço porque enfoca a fronteira entre a psiquiatria e a dermatologia, com a proposta de compreender o contexto psicossocial e ocupacional dos pacientes para solucionar os problemas da pele.
A pele reflete muito do estado interior da pessoa. Prova disso é que quem está feliz e de bem, com a vida apresenta uma pele mais macia, viçosa e aparentemente saudável. Por isso, não basta usar cosméticos caros para ter uma pele bonita. E preciso também cuidar da mente.
“Há várias doenças da pele que precisam de um acompanhamento psicológico”, confirma a dermatologista riopretense Clarice Birraque Coimbra Pereira.
De acordo com o dermatologista João Roberto Antônio, professor da Faculdade de Medicina de Rio Preto (Famerp), assim como os fatores psicológicos influenciam o aparecimento de inúmeras doenças na pele, as próprias lesões, geradas por causas orgânicas, também podem desencadear quadros de neurose ou psicose nos pacientes.
“Um adolescente com acne, por exemplo, conforme sua tendência emocional, pode ter reações anormais. A pessoa fica envolvida num ciclo vi cioso, no qual apresenta problemas psicológicos pela presença da acne e essa tensão acaba ajudando a agravar o problema”, explica o dermatologista.
No caso de jovens, por exemplo, é importante ressaltar que a acne nem deveria ser considerada uma doença, mas sim uma manifestação orgânica ligada a esta fase de vida, mas que também pode trazer muitos transtornos estéticos.
Segundo Iara Galiás, já se sabe que mensageiros químicos (os neuropeptídeos e outros neurotransmissores) levam informações do cérebro para os receptores da pele e vice-versa. Dessa forma, as mais diferentes emoções, como ansiedade, euforia, tristeza, angústia e depressão, acabam causando alguma reação no organismo, inclusive na derme e na epiderme.
Investigação
Nos casos de doenças provocadas pelos transtornos emocionais, é preciso que o médico faça uma investigação minuciosa para detectar o nível de estresse e ansiedade do paciente e encaminhá-lo para um consultório psicológico, quando necessário.
Os distúrbios podem ser divididos em três categorias:
psicofisiológicos, psiquiátricos primários e secundários. Os primeiros, que ocasionam psoríase e eczema, associam-se a problemas da pele que não estão diretamente ligados à mente, mas que se manifestam em estados emocionais como o estresse.
Os distúrbios psiquiátricos primários envolvem problemas psiquiátricos que ocasionam erupções na pele e os secundários, que associam-se ao distúrbios de desfiguração. Este último é resultado da diminuição de auto-estima, de pressão ou fobia social.
“Antes de considerar que uma doença tem fundo emocional, o profissional deve afastar a hipótese de outras doenças orgânicas para não cometer nenhum erro no diagnóstico final”, destaca João Roberto Antônio.
Tratamento associado
A demonstradora riopretense Rosenei Aparecida Pereira conta que já tentou de tudo para resolver os problemas de pele de sua filha, Gabriela Pereira da Silva, de quatro anos e meio. Desde que nasceu, a menina apresenta pequenas feridas em todo o corpo, como se tivesse alergia. “Já levei em vários médicos, s resultado”, diz.
Sua última esperança é o tratamento psicológico que a garota está fazendo no Ambulatório Regional de Especialidades (ARE). “Ela sempre foi muito nervosa e esperamos que a pele dela melhore agora”, comenta Rosenei. Gabriela tem dermatite atópica que deixa a pele vermelha e pode facilmente ser confundida com catapora ou queimadura.
Principais doenças
A psoríase é uma das principais doenças de pele que podem estar ligadas a fatores psicológicos. Caracteriza-se pela formação de placas avermelhadas sobre todo o corpo, com maior incidência em locais de atrito como cotovelos e joelhos.
O vitiligo é outra doença comum entre os distúrbios psicodermatológicos. Se manifesta por meio de manchas brancas ao redor da boca e dos olhos, e não tem sintoma. “Essas doenças fazem parte das neuropsicodermatoses, pois não apresentam causas específicas”, explica a dermatologista Clarice Pereira.
O líquen plano é outra doença de origem desconhecida, que provoca erupções na pele e coceira intensa. Neste caso, quanto mais a pessoa coça, mais feridas aparecem. Existem também vários tipos de alopecias, responsáveis por queda de pêlos e cabelos.
A dermatologista Clarice explica que é comum que algum desses problemas apareçam em quem passou por emoções fortes como a perda de uma pessoa querida ou um acidente de carro, por exemplo.
Nenhuma dessas doenças é tratada com antibióticos, mas sim com medicações para afastar os sintomas. No caso do líquen e das alopecias, é necessário uma investigação detalhada, pois podem estar associadas a doenças auto-imunes.
O dermatologista João Roberto Antônio destaca também a dermatite factícia como outra doença provocada por transtornos psicológicos. Nestes casos, o paciente apresenta lesões na pele produzidas por ele mesmo, mas propositalmente negadas. (FFA)
Relaxamento e exercícios podem ajudar
Relaxar, ouvir música ou praticar exercícios podem contribuir para a melhora da pele quando o estresse faz parte do diagnóstico do problema. Geralmente, os pacientes ficam embaraçados em discutir com o dermatologista problemas de ordem pessoal que possam estar desencadeando as doenças, mas a investigação é necessária, uma vez que pode indicar a necessidade de um acompanhamento terapêutico.
Os pacientes com distúrbios psicodermatológicos acabam resistindo ao tratamento psicológico, por isso a compreensão e o apoio da família são fundamentais.
Segundo a dermatologista Clarice Pereira, é preciso que se tenha uma visão global do paciente para que a prescrição do tratamento apresente eficácia. “São doenças sem causas conhecidas e é bom lembrar que do mesmo sistema embrionário podem ser gerados complicações tanto no sistema nervoso quanto na pele. E na conversa com o profissional que será avaliada a necessidade de tratamentos associados”, explica a médica.
Segundo a presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia Integrativa, Iara Galiás, após o diagnóstico também são indicados tratamentos com técnicas de meditação, respiração, ioga, dança e outros com os quais a pessoa se identifica. “To dos esses procedimentos, aliados à consciência do problema e à boa relação entre médico e paciente, vão ajudar a pessoa relaxar e manter a saúde da pele sob controle”, diz a médica.
Segundo Iara, as constatações entre a relação dos problemas de pele com as emoções estão ganhando credibilidade entre cientistas e médicos. Especialistas de diferentes áreas da medicina, como psicólogos, psiquiatras, dermatologistas e endocrinologistas estão unindo esforços para lidar com seus pacientes de forma mais integrativa. (FFA)
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