
Um aparelho inédito no Brasil, desenvolvido em 2002 pelo Instituto de Psicologia (IP) e pelo Departamento de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica (Poli) da USP, promete solucionar o problema de incontinência urinária (enurese). Com ele, crianças que não conseguem conter a urina durante o sono aprendem a fazê-lo após receber tratamento. O aparelho possui um alarme sonoro que dispara quando a criança começa a urinar na cama. A professora Edwiges Ferreira de Mattos Silvares, titular do IP e idealizadora do aparelho no Brasil explica que o alarme desperta a criança para ir ao banheiro. "O aparelho parece ter a função de bloquear o xixi durante o sono. Depois de algum tempo de uso, a criança treinada com o ele aprende a não urinar na cama, além de não se levantar para ir até o banheiro durante à noite" explica.
O aparelho consiste em um tapete (também conhecido como esteira ou pad)que tem sensores de umidade e um alarme. Seu funcionamento é bastante simples: o tapete fica embaixo do lençol da criança e detecta quando há umidade, em outras palavras, quando ela começa a fazer xixi. O alarme toca e a criança acorda para terminar de fazer o xixi no banheiro. "São um sinal de avanço manchas cada vez menores no lençol, o que quer dizer que a criança está acordando antes, aprendendo a reconhecer sinais de bexiga cheia", lembra Edwiges Silvares. Ele segue o mesmo princípio de um aparelho inglês, que já é usado há algum tempo mas custa quatro vezes mais.
Segundo a pesquisadora, o aparelho foi construído de acordo com uma concepção biocomportamental, isto é, considerando que as causas do problema possam ser tanto de ordem psicológica como orgânica. Em função disso, foi desenvolvido no IP o Projeto Enurese. Sua meta principal é auxiliar famílias de crianças enuréticas a partir de uma avaliação diagnóstica do problema. Com base nela é que será definida a propriedade do uso do aparelho. Nesse projeto, a criança e sua família são assistidas após passarem por uma avaliação de cerca de um mês. De acordo com Edwiges, nem toda criança que tem descontrole urinário é enurética. Para ser assim classificada, ela dever ter acima de cinco anos e apresentar uma certa regularidade no descontrole de urina. Após a avaliação, feita preferivelmente em conjunto com os médicos, se ficar comprovado que a criança possui apenas problemas orgânicos, ela será encaminhada para tratamento médico. Entretanto, se for constatado que o problema não é orgânico — o que pode ser definido após uma análise funcional do caso a criança poderá continuar no Projeto. "Se além do problema biológico, houver problemas psicológicos, cuidaremos primeiro destes, para só então iniciarmos o tratamento com o aparelho", esclarece.
A professora, porém, frisa que o envolvimento da família, que auxiliará a criança em casa, é vital para o sucesso do tratamento. "Às vezes, a criança pode não acordar com o alarme. Neste caso, é o responsável quem deve despertá-la", e completa, "arrumar a sua própria cama após ter acordado para fazer o xixi no banheiro faz parte do tratamento". As famílias utilizam gratuitamente o aparelho até o final do tratamento. Embora pelo projeto atual as crianças atendidas devam estar na faixa de 6 a 11 anos de idade, o uso do aparelho poderá ser estendido a adultos.
Ao descobrir que não havia similares no Brasil, somente aparelhos importados, Edwiges decidiu pesquisar a viabilidade de produção do produto no País. Ela diz que ficou assustada, pois o aparelho já existe na Europa e EUA há mais de 50 anos. No Brasil, somente em 1999 o aparelho nacional foi utilizado no tratamento de crianças assistidas no IP. "O custo do aparelho nacional ainda não se pode precisar pois só há o protótipo, cujo custo das peças é de R$ 50 reais, o que é aproximadamente oito vezes menor do que o aparelho importado", diz a doutora. Os futuros passos da pesquisa se dirigem na descoberta de como as crianças atendidas com o aparelho inibem a produção de urina durante a noite. "Esse processo é natural no organismo da criança não-enurética pela produção noturna de um hormônio ADH, inibidor de urina, mas não o é entre os enuréticos. Segundo pesquisadores estrangeiros, as crianças assistidas com o aparelho chegavam ao fim do tratamento produzindo naturalmente esse hormônio", finaliza a pesquisadora.
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