sábado, 8 de novembro de 2008

Metamorfose Ambulante...


“Se hoje eu sou estrela amanhã já se apagou.
Se hoje eu te odeio amanhã lhe tenho amor.”

(Raul Seixas)

Foram necessários dezoito séculos para que a teoria geocêntrica, segundo
a qual a Terra era o centro do Universo, formulada por Aristóteles, desse
passagem para o modelo heliocêntrico de Nicolau Copérnico, com os
planetas girando ao redor do Sol.

Com todo seu conhecimento e reputação, o mesmo Copérnico, que defendia a órbita
circular dos planetas, teve sua tese desfeita em 1609 por Kepler, que demonstrou
serem as órbitas elípticas.

A história da humanidade é repleta de passagens como estas. São os chamados
paradigmas, que designam modelos científicos aceitos por longo período e que
determinam todo o desenvolvimento posterior das pesquisas e das idéias.

Na vida em sociedade somos igualmente regidos por modelos, padrões, normas,
regras, leis. E a inclusão social demanda acatá-los todos. E adaptar-se.

A desobediência à Constituição torna-nos infratores, criminosos que devem ser
punidos. A inobservância às tendências da moda torna-nos excêntricos, seres
abjetos que devem ser renegados.

Estamos produzindo pessoas customizadas, que não pensam, não refletem, não
elaboram, não opinam. Pessoas sem identidade, ou melhor, com a mesma identidade
de todas as demais. Pessoas enquadradas, presas a um plano bidimensional. A
clonagem chegou ao cérebro antes do corpo físico.

Lidere, Siga ou Saia da Frente


A teoria evolucionista de Charles Darwin baseava-se nos seguintes fatos.
Os seres vivos reproduzem-se em progressão geométrica, mas como o número de
indivíduos de cada espécie tende a permanecer relativamente constante, significa
que há uma luta pela vida na qual sagra-se vencedor o mais adaptado ao
meio-ambiente.

Quando olho para o mundo corporativo de hoje enxergo com nitidez a aplicação da
tese darwiniana. O número de trabalhadores multiplica-se exponencialmente, mas
como a quantidade de empregos tende a permanecer estável, ou até se reduzir,
identificamos uma luta pela inserção profissional onde conquista a vaga não o
melhor, mas o mais adaptado ao meio-empresa.

O mais adaptado pode sê-lo porque foi indicado por alguém influente, porque
estruturou bem seu currículo, porque se comportou adequadamente na dinâmica de
grupo, porque deu as respostas precisas às velhas questões formuladas durante a
entrevista, porque durante todo o processo usou roupas com o corte certo e o
perfume na quantidade necessária.

O mais adaptado pode não ser o melhor tecnicamente, o mais preparado ou o mais
competente. Foi apenas o mais flexível, dentro de sua mediocridade e de sua
hipocrisia calculadas. Importa que ele foi o vencedor...

Se você tem personalidade suficientemente forte, pode ingressar no “sistema” com
base no modelo descrito acima. Para tanto, terá que declinar momentaneamente de
algumas de suas idéias para, num segundo estágio, trazê-las à tona
buscando influenciar os que o cercam. Primeiro você se adapta ou denota ter-se
adaptado. Depois, propõe um novo modelo e o conduz. Assim são forjados os
líderes corporativos de hoje.

Mas este pode não ser o seu perfil de modo que você, uma vez adaptado, assim
permanecerá. Assim é a maioria. Assim são os liderados.

Há evidentemente a classe daqueles que não se adaptam, nem para liderar, nem
para serem liderados. Estes são os negligenciados.


Idéias e Ideais

Há uma distinção entre idéias e ideais. Não precisamos ficar presos aos mesmos
argumentos quando outros, mais convincentes, nos visitam. É preciso praticar a
flexibilidade. Keynes dizia: “Quando mudam os acontecimentos, mudo de
idéia”. Mas não se deve mudar de opinião se não se pode mudar também a
conduta.

Já princípios são inegociáveis. Foi a luta pelo ideal de liberdade da
Escócia que fez com que William Wallace preferisse sua execução a jurar
lealdade à Inglaterra, como bem retrata o filme “Coração Valente”, estrelado por
Mel Gibson.

Como exemplo desta metamorfose ambulante que somos, nada melhor que o próprio
amor e suas idiossincrasias. A tênue linha que separa amor e ódio, atenção e
indiferença, carinho e omissão.

Garcia Marques nos ensinou que amamos outra pessoa não por quem ela é, mas por
quem nos tornamos na sua presença. “Amar”, disse Mário Quintana, “é mudar a
alma de casa”.

Muitos são os lares que a vida nos reserva...


Tom Coelho



Fonte: Academia Novak

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