
Imagine só, a mãe de uma amiga vai se casar pela Internet. Pois é, esta senhora de 65 anos, conheceu e se enamorou perdidamente por um homem virtual português da mesma idade
Lícia Egger Moellwald
Disse ela que, depois que começou a freqüentar alguns sites de relacionamento, sua vida mudou para uma existência sem limites e que, hoje, nada tem hora ou lugar certo para acontecer, tudo é por acaso.
Para completar, acrescentou que as conversas são longas, as trocas muito mais intensas e que, nesse espaço, ninguém é moço ou velho, as pessoas são o que são por dentro, o físico não tem a menor relevância.
Este casamento me levou a refletir sobre a incompetência da vida física quando comparada com as infinitas possibilidades do virtual e o quanto, ainda, desprezamos esse novo espaço de interação. Aliás, que nos serve agora.
Nisso, talvez não tenhamos nos dado conta de que a Internet inaugurou um sentido mais amplo para a vida e, é claro, mais complexo. Hoje, vivemos o que é chamado de simultaneidade dinâmica no seu aspecto mais real. Você está lendo este texto junto com outras pessoas que podem interagir a qualquer momento deixando recados ou sei lá o quê. Isso é a gestão da eventualidade.
Mas para entender esse processo e usufruir dele é preciso ter a mente aberta e se deixar pensar em todos os sentidos de uma maneira diferente. Entender que a vida virtual acontece no paralelo e em algumas ocasiões pode se conectar com a vida presencial é o primeiro quesito.
Daí que sexo, namoro, negócio ou qualquer outra interação na virtualidade têm a mesma intensidade e possibilidade que na vida presencial.
Não há dúvida de que os puristas vão cobrar deste casório a importância do “tocar” e “sentir” nos olhos do outro a paixão. Pessoalmente, eu não sei se, neste caso, não serviria só para diminuir o encanto.
Paqueras, namoros e casamentos no virtual não têm barriga, rugas, celulite ou mau-hálito. A telinha se encarrega de filtrar o que é ruim do presencial. Para ser honesta, minha amiga ainda não entendeu direito como a mãe pretende vivenciar esse casamento à distância, acredita que é tudo surreal. Mas confessa estar menos preparada para o virtual do que a mãe.
Da minha parte, estou ansiosa, porque este é o primeiro casamento a que eu sou convidada no qual os pombinhos vão dar o sim em videoconferência, cercados de amigos brasileiros de um lado do espaço e portugueses do outro.
Segundo o convite, devidamente distribuído por e-mail, o traje é livre e a senha para o acesso à cerimônia será distribuída com uma semana de antecedência, para evitar penetras.
Agora, para não dizer que o presencial não é importante, os noivos e convidados, cada um no seu canto, receberão um pequeno bolo e uma meia garrafa de champanhe, para brindar os noivos logo após a cerimônia.
A lua de mel, segunda a minha amiga, será passada cada um na sua casa, mas numa página da internet no Cabo da Gata na Espanha.
Se este casamento vai dar certo ou não pouco importa. Nessa história o que vale é a coragem, a flexibilidade e a criatividade desta mulher de 65 anos e do homem virtual português que vão tentar para valer viver uma nova possibilidade.
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